MUSCULAÇÃO AO LONGO DA VIDA

KARLA RÉGIA

    A musculação, que nada mais é do que um treinamento contra uma resistência, isto é, a aplicação de força contra uma resistência oferecida, é hoje um dos exercícios mais eficientes para um processo de envelhecimento sadio. Antes vista apenas como forma de desenvolver grandes volumes musculares, hoje ela se apresenta como uma prática segura e eficiente entre seus praticantes, além de ser uma das modalidades mais difundidas na sociedade.

    Por sua prescrição individual ser uma de suas principais características (é claro, sem deixar de lado os demais princípios que regem o treinamento desportivo) ela pode ser praticada em todas as fases do processo de envelhecimento: infância, adolescência, fase adulta e velhice. É de suma importância ressaltar que em cada fase do processo de envelhecimento a musculação apresentará características diferentes, mesmo porque é importante considerar a experiência que este indivíduo trás ao longo da sua vida, não importando se é uma criança ou um idoso.

    Conceituado como a soma de todas as alterações nos aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais que, depois de alcançar a idade adulta e ultrapassar a idade de desempenho máximo, leva a uma redução gradual das capacidades de desempenho e exigem novas adaptações psicofisiológicas do indivíduo[1], o envelhecimento é um processo natural que acomete todos os seres vivos e culmina com a morte.

    No geral, tanto a criança, quanto o adolescente, o adulto ou o idoso, apresentarão benefícios como ganho de força muscular, aumento da resistência muscular, diminuição da incidência de lesões e acidentes e melhor desempenho nas atividades funcionais, recreacionais ou da vida diária.

    Durante a fase puerícia, por estar em processo de desenvolvimento e maturação, é da própria natureza da pessoa o ganho de força, associado ao aperfeiçoamento da capacidade funcional do sistema nervoso[2]. O programa de musculação para essa faixa etária tem como objetivo promover as adaptações fisiológicas necessárias, a fim de proporcionar uma prática mais segura e eficiente ao indivíduo, que terá noções da execução correta dos movimentos, não precisando utilizar necessariamente o implemento de grandes quantidades de carga. No mais, fatores externos como qualidade da alimentação, tempo de sono e níveis de stress, além da predisposição genética, são determinantes no desempenho desses menores. Nesse momento, é fundamental promover as mais diferentes experiências motoras, seja por meio da musculação seja através de outras práticas físicas.

    Na adolescência todas as colocações acima mencionadas devem ser levadas em conta. No entanto, como o nível maturacional da pessoa está mais desenvolvido e existe um repertório motor mais diversificado e refinado, é natural um incremento no uso de força, o que leva à utilização de cargas mais pesadas, mas sempre respeitando as limitações individuais do praticante de musculação.

    Ainda se questiona a aplicação dessa prática entre crianças e adolescentes. Discutem-se conseqüências como a ocorrência de lesões osteomioarticulares[3], o fechamento das epífises ósseas e conseqüente comprometimento do processo de crescimento, o desenvolvimento excessivo do volume muscular (o que causaria desvios posturais nocivos a saúde) e diversos outros pontos que contra-indicariam a prática da musculação a esse grupo de pessoas.

    Todavia, estudos recentes e a própria prática revelam benefícios como o melhor desempenho motor, a redução de lesões em esportes e atividades recreacionais e alterações anatômicas e psicossociais favoráveis[4]. Não diferente, como qualquer outra atividade física, a musculação, quando praticada com negligência, desrespeitando a individualidade dos adeptos, mal orientada e planejada, ela pode sim comprometer a saúde de adolescentes e crianças, bem como qualquer indivíduo de qualquer faixa etária.

    Em adultos a prática é muito freqüente, principalmente entre os jovens, mas tem ganhado muito espaço entre indivíduos acima dos trinta anos, que pretendem uma melhor qualidade de vida nessa fase, indo além de objetivar uma velhice saudável. Os fins são os mais diversos, indo desde a estética, como a redução da gordura localizada ou hipertrofia de determinado segmento corporal até melhorias associadas à saúde, como diminuição de quadros álgicos e redução das taxas lipídicas.

    Por ser este um grupo em que o processo de desenvolvimento físico e maturacional já se encontram totalmente formados, aumenta as possibilidades de intervenção, de aplicação de metodologias diferenciadas e intensidades maiores.

    A velhice, última fase do processo de envelhecimento, é caracterizada, sobretudo pela diminuição das capacidades funcionais. Esta é conseqüência inevitável do envelhecimento, acentuando-se ainda mais na terceira idade. Esse declínio é acompanhado de inúmeras limitações, que muitas vezes conduzem a uma total dependência de terceiros, gerando uma insatisfação que pode levar a quadros patológicos como a depressão.

    Doenças como a hipertensão, diabetes, Alzheimer, artrose, osteoporose, artrite, fraturas[5], mau humor, cardiopatias e obesidade contribuem para o aumento da taxa de mortalidade[6] e morbidade nessa população. No entanto, a prática de uma atividade física regular, notadamente a musculação, pode melhorar de forma significativa a qualidade de vida dessas pessoas.

    Por ser uma modalidade em que o desenvolvimento da força é fomentada direta ou indiretamente, ela se torna uma prática fundamental para a diminuição dessas barreiras na vida do idoso, já que se observarmos bem, o componente força está presente em todas as atividades desenvolvidas pelo ser humano, atividades estas que vão desde levantar-se da cama até subir um pequeno lance de escadas para entrar em um ambiente.

    A musculação promove benefícios notórios[5],[7] à saúde e qualidade de vida dos idosos, dentre os quais podem ser destacados a melhoria da função cardíaca, da pressão arterial, do metabolismo basal, da força, flexibilidade e densidade mineral óssea, além do aumento da auto-estima, o que contribui para a autonomia funcional[8] e independência de tais pessoas.

    Dessa forma, clara é a importância da prática da musculação pela população em qualquer fase da vida, de forma que seus benefícios contribuem sobremaneira para a aquisição e manutenção da saúde durante todo o processo de envelhecimento, levando uma diminuição das taxas de mortalidade e morbidade na última fase desse ciclo, a velhice.

Karla Régia Ferreira Viana – Cref 515 G/MA, Especialista em Fisiologia do Exercício, Avaliadora Funcional e Professora de Musculação da Academia Viva Água.


 

[1] MOREIRA, Carlos Alberto. Atividade Física na Maturidade: avaliação e prescrição de exercícios. Rio de Janeiro: Shape, 2001. 138p.

[2] KRAEMER, Willian J.; FLECK, Steven J. Treinamento de força para jovens atletas. São Paulo: Manole, 2001.

[3] SANTARÉM, José Maria. Musculação para adolescentes. Disponível em: http://www.saudetotal.com/artigos/atividadefisica/adolescente.asp. Acesso em 28 Jun 2007.

[4] SIMÃO, Roberto. Fisiologia e prescrição de exercícios para grupos especiais. São Paulo: Phorte, 2004.il.

[5] CUNHA, Ulisses; VEADO, Marco Antônio Castro. Fratura da extremidade proximal do fêmur em idosos: independência funcional e mortalidade em um ano. Disponível em: http://rbo.org.br/materia.asp?mt=1742&idIdioma=1. Acesso em: 29 Jun 2007.

[6] MAIA, Flávia de O M et al . Fatores de risco para mortalidade em idosos. Rev. Saúde Pública.  São Paulo,  v. 40,  n. 6,  2006.

[7] ACSM. Programa de Condicionamento Físico da ACSM. São Paulo: Manole, 1999.

[8] Vale, Rodrigo Gomes de Souza et al. Efeitos do treinamento resistido na força máxima, na flexibilidade e na autonomia funcional de mulheres idosas. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum, v. 8, n. 4, 2006, p. 52-8.

OBESIDADE: Conhecer para combater

ROMULO BRUZACA

   Faz muito tempo que os corpos com formas arredondadas eram sinais de boa saúde, riqueza e alta posição social. Atualmente, a obesidade já é uma epidemia e considerada como doença crônica sendo originada por diversos motivos, ou seja, multifatorial[1],[2]. Sua epidemiologia tem origem endógena (geralmente por distúrbios hormonais) e/ou exógena (por agentes externos), que representam a grande maioria dos casos, dentre os que mais se destacam estão os maus hábitos alimentares, sedentarismo, e sono inadequado.

   A realidade é que entre os adultos nas capitais brasileiras a obesidade já atinge 11,6% das pessoas, tendo sua maior incidência em João Pessoa (13,9%) e a menor em São Luís e Belo Horizonte (8,7%)[3]. Não é por apresentar o menor índice entre as capitais que nós, em São Luís, podemos ignorar a realidade que bate em nossas portas, principalmente quando o aumento do sobrepeso no Brasil entre os meninos triplicou (de 2,6% para 11,8%) e duplicou nas meninas (de 5,8% para 15,3%) durante o período de 1975 até 1997[4].

   A principal maneira de identificar a obesidade é realizando uma avaliação na quantidade de gordura corporal (percentual de gordura), seja em laboratórios especializados ou em academias com o profissional de Educação Física, os parâmetros de normalidade são específicos para cada faixa etária, gênero, etnia e protocolo escolhido[5],[6]. Entretanto, uma maneira simples de investigar o nível de obesidade é através do índice de massa corporal (IMC)­­­­*, apesar de apresentar limitações em sua interpretação, é o parâmetro adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)[7] tanto para adultos como também para crianças[8].

   Limitar-se a encarar essa doença como uma questão de estética corporal para saber qual a melhor roupa a ser utilizada no próximo verão é um fato que necessita de extrema cautela, pois, a obesidade estar relacionada a diversas outras patologias como: problemas ortopédicos, diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, depressão, isolamento social, dentre outras[9],[10],[11].

   Mediante a estas informações é responsabilidade dos profissionais da área de saúde, em especial aos da Educação Física, oferecer recursos as pessoas para que possam combater a progressão alarmante desta doença. Conhecer os fatores que contribuem para o desenvolvimento ou instalação da doença é o começo da batalha.

Romulo Bruzaca Soares – Cref 568 G/MA, Especialista em Fisiologia do Exercício, Coordenador de Atividades Terrestres Academia Viva Água.


* Cálculo do peso corporal (kg) dividido pelo quadrado da altura (m).

 


Referências Bibliográficas

[1] MARQUES-LOPES, Iva; MARTI, Amelia; MORENO-ALIAGA, María Jesús; MARTÍNEZ, Alfredo. Aspectos genéticos da obesidade. Rev. Nutr., Campinas, jul./set., v. 17, n. 3, 2004, p. 327-338.
[2] ESCRIVÃO, Maria Arlete M.S.; OLIVEIRA, Fernanda Luisa C.; TADDEI, José Augusto de A.C.; LOPEZ, Fábio Ancona. Obesidade exógena na infância e na adolescência. J. pediatr. (Rio J.), v. 76 (Supl.3), 2000, p. S305-S310.
[3] Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigitel, Brasil 2006: Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2007, p. 92.
[4] VEIGA, Gloria V. da; CUNHA, Adriana Simone da; SICHIERI, Rosely. Trends in Overweight Among Adolescents Living in the Poorest and Richest Regions of Brazil. Am J Public Health, set. v. 94, n. 9, 2004, p. 1544-48.
[5] HEYWARD, Vivian H.; STOLARCZYK, Lisa M. Avaliação da composição corporal aplicada. São Paulo: Manole, 2000.
[6] REZENDE, Fabiane; ROSADO, Lina; FRANCESCHINNI, Sylvia; ROSADO, Gilberto; RIBEIRO, Rita; MARINS, João Carlos Bouzas. Revisão crítica dos métodos disponíveis para avaliar a composição corporal em grandes estudos populacionais e clínicos. ALAN, v.57, n.4, 2007, p.327-334.
[7] World Health Organization (WHO). Obesity: preventing and managing the global epidemic. Obesity Technical Report Series, n. 894, Geneva, 2000.
[8] CONDE, Wolney L.; MONTEIRO, Carlos A. Valores críticos do índice de massa corporal para classificação do estado nutricional de crianças e adolescentes brasileiros. J Pediatr (Rio J). v. 82, 2006, p. 266-72.
[9] WELLS, Jonathan C. K.; TRELEAVEN, Philip; COLE, Tim J. BMI compared with 3-dimensional body shape: the UK National Sizing Survey. Am J Clin Nutr, v. 85, 2007, p. 419 –25.
[10] GIORGI, Pier Luigi. L’adolescente e l’obesità: patologie organiche correlate e proposte terapeutiche. Recenti Progressi in Medicina, v. 98, n. 2, 2007, p. 97-111.
[11] SPIEGEL, Allen; NABEL, Elizabeth; VOLKON, Nora; LANDIS, Story; TING-KAI LI. Obesity on the brain. Nature neuroscience, v. 8, n. 5, 2005, p. 552-553.

APRESENTAÇÃO

Academia Viva Água - Pequeno 

Em 1994, a então Escola de Natação Viva Água através de uma publicação técnico-didática apresentou a todos sua proposta de trabalho, a edição de uma revista dedicada à educação física, esportes e lazer – às Ciências dos Esportes, como se usava então…

Dera inicio pouco antes à publicação de um Jornal, com notícias destinadas ao seu público interno, sobre as novidades da Natação. Já com os Cadernos pretendia-se a disseminação de artigos mais profundos, para além da simples notícias. Essa era a proposta. Foram publicados quatro números, todos dedicados a um levantamento bibliográfico do que havia sobre o tema atividades aquáticas no Brasil, ou em língua portuguesa.

O quarto número foi dedicado à bibliografia do Prof. Dr. Stephen Langendorfer, um dos maiores especialistas mundiais em natação para crianças – esse o título da Clínica de Natação promovida pela Viva Água no período de 29/06 a 02/07 de 1994, quando o trouxe a São Luís.

Na apresentação do primeiro número assim nos colocamos:

“Trabalhar em educação – através das atividades de aprender e praticar Natação, no nosso caso – é participar de um processo de busca contínua de informação e aperfeiçoamento. Com o competente apoio de especialistas estamos implantando um programa de publicações que teve inicio com o Jornal Viva Água, visando o publico em geral e, agora, o primeiro número dos Cadernos Viva Água, dirigido a professores em Educação Física e Natação. Contamos com a participação de todos os profissionais da área para a consolidação deste programa, ao mesmo tempo em que nos colocamos sempre atentos e agradecidos às sugestões e colaborações. Denise Araújo e Osvaldo Telles.”

Reafirmamos nossos propósitos. Nesses 25 anos de atuação na área da educação física, oferecendo nossos serviços de atividades físicas, iniciada com a Natação e agora com um “mix” de atividades, voltamos a publicar nosso Cadernos Viva Água, e dando continuidade, este será nosso número 5.

Contamos com a colaboração de nossos Profissionais, e os artigos que aparecerão terão um cunho informativo e destinado a nossos Clientes. Uma vez por semestre, pretendemos um número especial, em que os artigos abordados aqui serão apresentados em outro formato: o de artigo científico; e em outro suporte, em formato eletrônico. Aliás, este também será disponibilizado em formato eletrônico.

Denise Araújo & Osvaldo Telles
Diretores da Academia Viva Água